quarta-feira, 23 de abril de 2008

A importância de um incentivo.

Em tempos de tantas contradições aos valores humanitários dignos e tradicionais, sejam elas físicas como a violência urbana ou as guerras, sejam psíquicas como o preconceito ou o fanatismo, talvez seja hora de desligar um pouco a televisão, parar de "dar Ibope" e buscar, no nosso próprio histórico e também no relato de outras pessoas que ainda merecem ser chamadas de pessoas, razões para continuar a acreditar que o mundo ainda é uma criação viável e, à medida do possível, tentar multiplicar essa crença, que a cada dia parece diminuir mais.

No último domingo, ao invés de assistir a "revista eletrônica do plim-plim" (que aliás não assisto nunca), pude presenciar o resultado de um incentivo dado na hora certa, um desses marcos que todos deveriam ter vontade e oportunidade para atingir na vida, que é a formação universitária, sendo alcançado por um jovem de origem extremamente simples, através do seu próprio esforço, a partir dos recursos por ele conquistados com o seu trabalho, representando mais um passo dado em direção à sua merecida história de realização pessoal e profissional.

OK, muitos poderiam dizer: "quanta cena por uma formatura!"...

A esses muitos, creio que caberia perguntar quais têm sido os assuntos de suas conversas de rotina... Temo que toda essa barbaridade veiculada recentemente por aqueles meios de comunicação que, a princípio, foram idealizados para informar e educar, mas que têm se comportado como se fossem um bando de cavaleiros de um apocalipse de interesses, esteja ocupando demais os cérebros desses muitos.

Pouco provavelmente serei visto, em sã consciência, em algum ato público que tenha maior alcance que alguns discursos inflamados na Kombi do Brunão ou em alguma mesa de bar, mas enquanto voz amiga, estarei presente, independentemente do teor alcoólico, para todos aqueles que acreditarem em si mesmos e a quem minha experiência de vida puder servir para algum propósito digno.

Tenho certeza que a vida deste jovem que se formou no domingo mudou para melhor. E tenho certeza que, mesmo neste cenário aparentemente desfavorável e de pouca esperança, ele saberá multiplicar e compartilhar o que recebeu com outras pessoas hoje em situação semelhante a que ele estava há cinco anos que talvez estejam assistindo TV demais e agindo menos pró-futuro. Desnecessário dizer que ele não precisará fazer isso com pessoas que lêem ou escrevem textos como esse aqui, que assim como nós e ele, em algum momento da vida, tivemos a oportunidade e passamos a ter o dom e a entender a responsabilidade de agir como multiplicadores do bem que ainda resta!

terça-feira, 15 de abril de 2008

O Geninho Profeta.

Na manhã de 12/04 - era um daqueles dias que chamamos de sábado - levantei-me no meu horário de costume dos sábados, por volta das 10h.

Ao sair de minha alcova e dizer bom dia, recebi a resposta direta de um pequeno inquilino que havia dormido em minha casa (aquele imóvel que tem o endereço que regularmente utilizo para comprovar residência):

- "Bom dia, peladão!" (eu trajava calças compridas, só não tinha tido energias para vestir a camisa... até de meias acho que eu estava...)

Após reunir os parcos caquinhos que sobravam do eu da noite anterior, vesti a camisa e consegui cumprir toda a rotina de quem tenta acordar.

Sentei-me na ala juvenil do parque de diversões em forma de casa (definição do inquilino geninho) onde fica o computador e parti para minha rotina lúdica dos sábados, que é um baralhinho on-line.

Passadas as primeiras 3 horas de renascimento pós-ressaca, o Sr. Pai do geninho adentra o parque de diversões e dirige-se a ala juvenil.

Até então, tudo normal.

Nenhum sentimento interior suspeito.

Repentinamente o geninho solta a seguinte frase:

- "Vá no banheiro!"

O pai do geninho, envergonhado, profere:

- "Que modos são esses? Por que falar assim com o Italo????"

Ao que o geninho prontamente responde:

- "Olhe o pé dele!"

Achando que tinha pisado na m... ou algo que lembrasse isso, olhei assustado para meu pé e, creiam-me, nada anormal a declarar...

O geninho, com toda a calma do mundo, esclareceu:

"Ele está com o pé balançando, isso é vontade de ir no banheiro!"

E a profecia durou dois dias...

Perdi até a apresentação da Trupe de Elite no Botequim.

Das duas, uma: ou não convido mais o piá para dormir em casa, ou preciso tomar cuidado com o que como na sexta à noite...

segunda-feira, 14 de abril de 2008

O tudo e o nada.

Tudo aquilo que sentimos não é nada do que parece ser,

mesmo que nada nos faça tudo parecer tão impossível.

E nada do que a gente possa fazer vai se tornar tudo,

se tudo que a gente fizer não se tornar nada no final.

Pois quase tudo que passa e não deixa quase nada,

não é quase nada comparado à quase tudo que fica.

E mesmo que tudo nunca deixe de ser quase nada,

nada vai nos deixar esquecer o que quase foi tudo.

E quando tudo o que for já não nos significar mais nada,

nada mais poderá nos trazer tudo o que fomos de volta.

E se, após acontecer tudo, nos flagrarmos sem entender nada,

talvez nada tenha acontecido para que tudo fosse entendido!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Memórias da saideira do posto de gasolina.

Antes daquele indivíduo misterioso - um alter ego qualquer que se manifesta nas madrugadas de segunda para terça-feira - decidir interromper o sossego em que ela se encontrava naquela geladeira do posto de gasolina da esquina, ela era apenas mais uma latinha de cerveja em meio a tantas outras. Tranqüila, em busca da temperatura ideal, sonhando em ser o primeiro gole da noite de alguém, o qual normalmente é reconhecido como o melhor dos goles. Pobre latinha... Mal sabia que seria a vítima de um atentado à nobreza da cerveja, que só comete quem já sequer tem vontade de beber, mas que, no embalo dos discursos impensados proferidos na embriaguez, reluta em abandonar a companhia da lata, que naquele momento ímpar, às entranhas cerebrais do alcoolizado, parece ser a única a compreender o incompreensível. E nesse calvário, a pobre latinha, que tanto sonhara proporcionar prazer a alguém em começo de festa, se sente esquentar. E se sente esquecida. E, ao se ver pela metade, quente, sem mais nenhum sentido de ser, sente-se desabar em meio a tantas outras gêmeas infelizes, que também tiveram destino semelhante. Felizes daquelas que saíram cedo da geladeira, em melhores mãos. Ou não.